Outubro Rosa, mês em que as atenções são voltadas à conscientização sobre o câncer de mama, doença que deve atingir, segundo estimativa do Instituto Nacional de Câncer (Inca), mais de 66 mil brasileiras em 2022. Além disso, cerca de 35% das pacientes descobrem a doença em estágio avançado, o que limita as chances de cura.
A doença é classificada em quatro subtipos principais (tumores luminais A e B, HER2 positivos ou triplo negativos), a depender da expressão de receptores hormonais, da presença da proteína HER2 e da taxa de proliferação celular. O câncer de mama HER2 positivo é um dos mais agressivos e corresponde a cerca de 20% dos casos.
Recentemente, especialistas do mundo todo foram impactados pelos resultados de pesquisas com um medicamento de uma nova categoria de terapias-alvo, os chamados anticorpos conjugados (ou conjugados de anticorpo-medicamento). Trata-se do trastuzumabe deruxtecana, que, a exemplo de outras drogas dessa classe, funciona utilizando um biomarcador como alvo.
No caso do trastuzumabe deruxtecana, o anticorpo é direcionado à proteína HER2 e leva até as células tumorais HER2 positivas um quimioterápico para agir diretamente contra elas. É uma estratégia que se assemelha à do Cavalo de Troia, pois um anticorpo monoclonal libera o medicamento apenas após conectar-se à célula do câncer.
A proposta dos anticorpos conjugados é aumentar a eficácia dos quimioterápicos e, por ser uma terapia-alvo, minimizar efeitos colaterais sistêmicos quando comparados à quimioterapia convencional.
O trastuzumabe deruxtecana, que já havia demonstrado sua eficácia no câncer de mama HER2 positivo, com benefício clínico superior a 97% (taxa de controle da doença) em linhas avançadas de tratamento, também demonstrou bons efeitos em pacientes com alguma expressão de HER2, mas que não atingiam critérios para serem consideradas efetivamente HER2 positivas (HER-2-low).
O estudo contou com a participação de 557 mulheres com câncer de mama metastático (espalhado para outros locais) nessas condições, com tumores com receptores hormonais positivos ou negativos e que já tinham recebido uma ou duas linhas de tratamento. Elas foram divididas em dois grupos: um recebeu o trastuzumabe deruxtecana e o outro recebeu a terapia de escolha do médico.
O trastuzumabe deruxtecana praticamente dobrou a sobrevida livre de progressão da doença, além de propiciar aumento de sobrevida global de mais de seis meses, com redução de 36% do risco de morte.
Esse resultado abre caminho a um novo padrão de tratamento para pacientes com essas características da doença, mudando a prática clínica e aumentando o número de mulheres com tumores avançados e metastáticos elegíveis a um tratamento seguro e eficaz.
São notícias animadoras e cada vez mais constantes. Na última semana, acompanhei o Congresso da Sociedade Europeia de Oncologia Clínica (ESMO), onde recebi atualizações que irão impactar a jornada de milhões de pessoas pelo mundo. Na ocasião, foram apresentados novos dados de estudos em curso mostrando que o ganho de tempo de vida nesse contexto é uma realidade.
Em 15 anos, pacientes que foram tratadas com quimioterapia no cenário não metastático tiveram um ganho significativamente maior com a realização de quimioterapia com antraciclinas em um intervalo menor para tumores com receptores hormonais positivos, e com diferença maior ainda para mulheres com tumores receptores hormonais negativos.
A ampliação do arsenal terapêutico para o tratamento do câncer de mama é essencial, pois permite que muitas mulheres não precisem mais renunciar a seus projetos e sonhos por causa da doença.
* Solange Moraes Sanches é oncologista, vice-coordenadora do Centro de Referência de Tumores de Mama do A.C.Camargo Cancer Center, membro titular da American Society of Clinical Oncology (ASCO), da da European Society of Medical Oncology (ESMO) e da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC).
Fonte: Veja Saúde
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