Os hormônios são mensageiros químicos que coordenam diversas funções corporais, incluindo o processo reprodutivo. Assim, são essenciais para a gravidez ser bem-sucedida. Durante o ciclo menstrual diferentes hormônios preparam o corpo das mulheres para receber um possível embrião, e na gestação, facilitam a nutrição durante o desenvolvimento do feto, as contrações no momento do parto e a lactação, por exemplo.
Cada um tem seu papel e funcionam em sincronia para que não ocorram falhas que possam comprometer o sucesso do processo gestacional. A progesterona é um dos dois hormônios sexuais femininos, sendo o outro o estrogênio. Tem uma importante atuação no ciclo menstrual, na manutenção da gravidez e na regulação da menstruação.
O que é progesterona?
A progesterona é o principal hormônio de um grupo de esteroides denominados progestágenos, hormônios sexuais como os estrogênios e androgênios, ou seja, atuam no desenvolvimento sexual durante a puberdade e estão envolvidos no processo de reprodução. É secretada principalmente pelo corpo-lúteo, nos ovários, durante a segunda metade do ciclo menstrual e desempenha um papel importante nas fases iniciais da gravidez, particularmente no preparo endometrial.
Endométrio é um tecido epitelial altamente vascularizado que reveste internamente o útero; abriga e nutre o embrião até a formação da placenta. Para isso, deve ser devidamente preparado durante os ciclos menstruais. A interação do embrião com o endométrio tem início com a nidação, etapa em que ele se fixa à essa camada uterina para dar início à gravidez. O preparo endometrial inadequado, portanto, pode levar a falhas e abortamento.
Conheça a relação entre progesterona e preparo endometrial
O ciclo menstrual ocorre continuamente durante a idade fértil das mulheres desde a puberdade e se encerra na menopausa. Começa no primeiro dia da menstruação e é dividido em três fases, folicular, ovulatória e lútea.
Na fase folicular, o hormônio FSH (folículo-estimulante) atua no recrutamento de vários folículos ovarianos, que contêm o óvulo imaturo. Um deles desenvolve e amadurece pela ação do LH (hormônio luteinizante) e passa a secretar estrogênio, hormônio que inicia o preparo endometrial.
Quando o folículo se desenvolveu o suficiente, na segunda fase, a ovulatória, um pico de LH o induz ao amadurecimento final e rompimento para liberação do óvulo, também maduro, para ser fecundado pelo espermatozoide.
Na última fase, a lútea, as células resquiciais do folículo rompido se transformam no corpo-lúteo, uma glândula endócrina temporária cuja função é secretar progesterona, hormônio que vai finalizar o preparo endometrial.
Nas primeiras semanas da gravidez a progesterona ainda é produzida pelo corpo-lúteo até a placenta ser formada e assumir essa função, o que acontece geralmente entre a 8ª e 12ª semanas. Durante a gravidez, atua no preparo das mamas para a lactação e fortalece os músculos da parede pélvica em preparação para o parto.
Por outro lado, se o óvulo não for fecundado pelo espermatozoide o corpo-lúteo degenera, levando à diminuição dos níveis de progesterona, o que provoca a descamação do endométrio originando a menstruação e um novo ciclo menstrual.
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Como é possível perceber, o ciclo do endométrio também ocorre em três diferentes fases, duas delas são particularmente importantes para o preparo endometrial, a proliferativa e a secretora. Veja abaixo o que acontece em cada uma:
Proliferativa: durante a fase folicular o estrogênio promove a proliferação das células do estroma e das células epiteliais, dobrando ou até triplicando a espessura do endométrio, tornando-o mais vascularizado.
Secretora: a fase secretora do endométrio inicia com a formação do corpo-lúteo e a secreção da progesterona, que promove o espessamento final do endométrio. Nessa fase, deve ser aproximadamente 6 vezes mais espesso quando comparado ao início do ciclo.
Menstruação: quando a fecundação não acontece, a redução dos níveis de estrogênio e progesterona levam à descamação e menstruação. Dessa forma, há uma consequente diminuição do estímulo às células endometriais e uma involução natural do endométrio, que volta novamente a se espessar no ciclo seguinte.
A secreção inadequada de progesterona, portanto, interfere no preparo final do endométrio. Essa condição é denominada defeito na fase lútea e pode ocorrer quando o corpo-lúteo não secreta progesterona suficiente ou o endométrio não responde bem ao hormônio. O embrião não consegue se implantar resultando em falhas, abortamento e consequentemente em infertilidade feminina.
O defeito na fase lútea pode ocorrer naturalmente ou como consequência de diversas condições, como a síndrome dos ovários policísticos (SOP) e a endometriose, doenças comuns durante a idade fértil, ou mesmo motivado por alguns hábitos de vida, incluindo estresse, exercício físico excessivo, baixo peso e sobrepeso.
Preparo endometrial e reprodução assistida
A reprodução assistida é o tratamento padrão para os fatores de infertilidade, femininos e masculinos. A fertilização in vitro (FIV) é a técnica mais indicada nos casos em que a dificuldade reprodutiva é provocada pelo preparo endometrial inadequado.
Na FIV, a fecundação acontece em laboratório após a coleta e seleção dos melhores óvulos e espermatozoides. Os embriões formados se desenvolvem por alguns dias, também em ambiente laboratorial, e são transferidos diretamente ao útero materno.
Antes da transferência, entretanto, é possível garantir o preparo correto do endométrio com medicamentos hormonais sintéticos semelhantes ao estrogênio e progesterona naturais. Todos os embriões formados são, então, congelados, técnica complementar à FIV conhecida como freeze all. É fundamental que os níveis de progesterona estejam regulados antes da transferência embrionária durante a FIV.
No ciclo seguinte são descongelados e transferidos no período de maior receptividade, apontado por exames de ultrassonografia transvaginal realizados periodicamente. Assim, falhas de implantação consequentes do preparo endometrial inadequado são minimizadas, permitindo o sucesso da gestação.
Fonte: Dr Augusto Bussab, Especialista em Reprodução Humana
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