O tratamento do câncer de pulmão evoluiu bastante nos últimos anos, com novas drogas desenhadas para alvos específicos que, se não curam, aumentam o tempo de vida com a doença sob controle. Mais uma dessas moléculas, o tepotinibe, foi aprovada recentemente no Brasil pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
O medicamento, da Merck, é indicado para pessoas com câncer de pulmão de não pequenas células avançado, cujos tumores apresentam uma alteração genética em particular, a mutação skipping do METex 14. Estima-se que cerca de 3 a 4% dos portadores da doença se encaixem nessa categoria.
Trata-se de um caminho promissor, que só recentemente começou a ser mais bem desbravado pela ciência.
“Tumores com essa alteração aparecem mais na faixa etária dos 60 a 70 anos e costumam ser agressivos, com perspectivas ruins para o tratamento. Só a partir de 2014 descobrimos o local exato da mutação e foi possível desenvolver moléculas específicas para ele”, comenta Luiz Henrique Araújo, oncologista e pesquisador no Instituto Nacional de Câncer (Inca).
No estudo fase 2, que levou à aprovação mesmo antes da fase 3 (uma possibilidade quando os resultados são animadores o suficiente para as agências regulatórias), a droga demonstrou uma taxa de resposta de 43% por cerca de 11 meses, e uma sobrevida de 17%.
“Isso quer dizer que o remédio reduziu quase pela metade a probabilidade de progressão da doença nesse período, um resultado impressionante em relação ao que tínhamos disponível até agora”, aponta Araújo. Além do Brasil, Japão e Estados Unidos já aprovaram o tepotinibe.
Detalhes do estudo
Os achados que nortearam a aprovação do medicamento pela Anvisa foram publicados no New England Journal of Medicine em setembro de 2020. O trabalho foi feito com 152 indivíduos com idade média de 73 anos com câncer de pulmão avançado ou metastático, portadores da tal mutação.
Não havia um grupo placebo. A diferença entre os participantes é que alguns haviam recebido tratamentos anteriores e outros, não. Os benefícios foram notados independente do histórico terapêutico da pessoa, em cerca de metade do grupo — daí o cálculo da taxa de resposta — em média, com variações entre os segmentos.
“Apesar de não termos um ensaio comparando o tepotinibe com a primeira linha de tratamento [só quimioterapia, ou químio combinada com a imunoterapia], a atratividade de ter uma terapia oral com uma taxa de resposta nesse nível é alta”, destaca Araújo.
Já existem outros inibidores de MET disponíveis, mas esse é o primeiro a ser apresentado em comprimido, a ser tomado uma vez ao dia. Esse é um fator importante para a qualidade de vida do indivíduo, que já pode estar comprometida nesse estágio da doença.
Antes que a novidade seja comercializada no país, seu preço deve ser aprovado pela Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED).
Fonte: Veja Saúde
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