Hipogonadismo masculino refere-se a uma síndrome clínica que resulta da incapacidade dos testículos de produzirem concentrações normais de testosterona e/ou de produzirem quantidade adequada de espermatozoides. No homem, os níveis de testosterona, que é o principal hormônio sexual masculino, reduzem com a idade, porém geralmente permanecem dentro do valor de normalidade e não promovem sinais ou sintomas clínicos.
O diagnóstico do hipogonadismo masculino é realizado quando há sinais e sintomas clínicos compatíveis + baixos níveis de testosterona no sangue. O rastreamento de rotina do hipogonadismo masculino na população geral não é recomendado. As dosagens hormonais não devem ser realizadas em homens que estiverem na vigência ou em recuperação de uma doença aguda, ou em uso temporário de medicações que interferem no eixo gonadal.
A coleta de sangue para dosagem de testosterona, quando indicada, deve ser feita entre 7 e 10 horas da manhã em jejum. Em caso de níveis diminuídos, a dosagem deve ser repetida em uma segunda amostra com no mínimo 15 a 30 dias.
Os sinais e sintomas de deficiência de testosterona não são específicos e modificam com a idade, outras doenças, gravidade e duração da deficiência hormonal, características individuais e uso prévio de terapia hormonal com testosterona.
Os principais sinais e sintomas da deficiência de testosterona
A falta deste hormônio sexual pode ter várias causas e, algumas delas podem ser reversíveis. Entre as causas comuns estão: obesidade, diabetes mellitus, uso de medicamentos, uso de esteroides anabolizantes, doenças específicas e até tumores do sistema endócrino, sendo fundamental não somente tratar a falta do hormônio, como tratar a causa desta falta.
A testosterona tem importância em diversas funções do organismo, além da sexual. A falta ou o excesso deste hormônio podem trazer consequências graves como alterações na produção de glóbulos vermelhos, na força e massa muscular e óssea, além das funções do coração, artéria e veias.
Endocrinologista esclarece as principais dúvidas sobre hipogonadismo e deficiência de testosterona
1) Qual o nome correto: Andropausa, DAEM ou hipogonadismo tardio?
No homem, diferentemente da mulher, não existe parada da produção de hormônio sexual, portanto o termo “andropausa” não é adequado. Com o envelhecimento ocorre diminuição da produção hormonal podendo, em alguns casos, atingir níveis considerados inadequados e promover sintomas de falta do hormônio masculino. Os termos DAEM (deficiência androgênica do envelhecimento masculino) e hipogonadismo masculino tardio são os mais adequados e frequentemente utilizados na prática clínica.
2) Quem precisa dosar a testosterona?
Não se recomenda a dosagem rotineira de testosterona na população geral masculina. Indica-se a investigação naqueles homens com sinais e sintomas de baixos níveis de testosterona como:
- Desenvolvimento sexual atrasado ou incompleto;
- Perda de pelos corporais, como axilares e pubianos;
- Testículos muito pequenos (geralmente inferiores a 6 ml);
- Redução da atividade e do desejo sexual (libido);
- Diminuição das ereções espontâneas;
- Disfunção erétil;
- Aumento do volume mamário (ginecomastia);
- Infertilidade;
- Sensação de “calorões” e suor excessivo;
- Redução da: energia, motivação, iniciativa e autoconfiança (não justificada por outras causas);
- Sensação de tristeza, mudança de humor e sintomas depressivos persistentes;
- Aumento da gordura corporal;
- Fraturas ósseas por baixo trauma e redução da densidade mineral óssea;
- Redução da massa muscular.
Também devem ser avaliados individualmente os pacientes com histórico de uso de medicamentos que possam interferir nos níveis hormonais masculinos como opioides e corticoides e aqueles que suspenderam o uso de esteroides anabolizantes e apresentem sinais e sintomas de falta do hormônio.
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3) Somente a falta de testosterona pode dar estes sintomas?
Não, os sinais e sintomas de deficiência de testosterona não são específicos e a avaliação médica especializada é imprescindível para definir a causa e descartar outras situações como: estresse, problemas no relacionamento e outras doenças ou situações que podem causar os mesmos sintomas.
4) Se eu não tiver falta de hormônio e usar testosterona, pode fazer mal?
Sim, os estudos específicos têm demostrado que os indivíduos que utilizam testosterona em excesso ou sem necessidade apresentam riscos importantes à saúde, tais como maior risco de: morte, infartos, AVC (derrame), trombose, hepatite por uso de medicamento, reações alérgicas, aumento do tamanho da próstata, redução da produção de espermatozoides, redução do tamanho dos testículos, aumento da oleosidade da pele e acne, roncos e apneia do sono.
5) Com apenas 1 dosagem de testosterona e sintomas, posso iniciar tratamento?
Não é indicado. A dosagem de testosterona, como as de outros hormônios, pode sofrer diversas interferências de medicamentos, situações pessoais, estresse e doenças recentes, assim, sempre deve ser repetida antes de tratar. Um simples resfriado pode alterar a dosagem de diversos hormônios e os sintomas da deficiência não são específicos.
6) Se eu iniciar o tratamento, devo tratar por toda a vida?
Não necessariamente. Caso tenha a causa revertida, como por exemplo o controle do diabetes mellitus, a perda de peso ou o controle de um tumor endócrino, existe uma chance grande de seus níveis de testosterona voltarem ao normal e seu médico poderá avaliar a possibilidade de suspender do tratamento. Por isso é imprescindível tratar a causa da falta de hormônio e realizar o acompanhamento corretamente.
7) Qual o melhor tratamento?
No Brasil, há a disponibilidade de formulações de testosterona em gel para aplicação na pele e de injeções intramusculares com diferentes intervalos de aplicação e duração do efeito. Cada formulação tem a sua indicação e deve ser avaliada de forma rigorosa e individualizada com o seu médico. Não é indicado o uso de testosterona em forma de comprimidos via oral e não é aconselhado o uso das formulações manipuladas. O uso via oral aumenta muito a chance de hepatite por medicamento e a manipulação pode sofrer diversas interferências, sendo recomendadas as formulações já prontas.
Alguns casos específicos podem ser utilizados outros medicamentos com efeito no eixo hormonal masculino com o intuito de melhorar a fertilidade e/ou a produção interna da testosterona. Medicações ditas naturais não mostraram benefício claro e segurança no tratamento até o momento e o seu uso deve ser desencorajado. Não existem implantes aprovados para reposição de testosterona.
8) A reposição de testosterona interfere na fertilidade?
Sim. Com o uso exógeno de testosterona, existe a possibilidade de diminuição e até mesmo a parada de produção de espermatozoides, que pode ser temporária ou permanente. Caso exista o desejo de fertilidade, o tratamento deve ser discutido com seu médico e optado pela melhor abordagem terapêutica para você.
Artigo escrito pelo Dr. Emerson Cestari Marino Médico, Endocrinologista (CRM-PR 31.440 – RQE 17.221). Publicado no Blog da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM).